Visual Merchandising a serviço da loja sem gênero: categoria brinquedos
![Top-Toy loja sem gênero](http://mmdamoda.com.br/wp-content/uploads/2018/03/Top-Toy-loja-sem-gênero.png)
Recente matéria publicada no Portal G1 discute as mudanças que vêm ocorrendo no segmento de brinquedos. Segundo dados dos fabricantes ouvidos pelo G1 na 35ª Feira Internacional de Brinquedos (Abrin), a maior feira de brinquedos da América Latina, o estereótipo ‘menino x menina’ ainda impera, porém, as meninas têm sido mais facilmente atraídas para carrinhos e super-heróis, enquanto o maior desafio ainda está em atrair pais e filhos homens às brincadeiras de casinha, consideradas “coisas de menina”.
Sabemos que esse é um caminho sem volta, mas como tudo que está em transformação ainda é imprevisível, erros e acertos acontecerão até a compreensão micro desse novo comportamento de consumo. Se você quer compreender melhor porque os brinquedos não tem gênero e porque os pais, cada vez mais, procuram quebrar essa lógica, sugiro a leitura do texto “Nem de menino, nem de menina. Apenas brinquedos” de Camilo Rocha para o Nexo Jornal.
O que nos interessa aqui, nesse momento, é como o ambiente de loja e o visual merchandising podem contribuir para facilitar (ou naturalizar) a jornada de compras nesse novo cenário. Primeiramente, gosto de lembrar que o varejo tem um papel fundamental de validação dos estereótipos, ou seja, quando algo é apresentado à massa por um varejista popular (não existe moda e modismos sem classe média), o inconsciente coletivo tende a compreender aquele padrão como algo válido, possível, bonito e aceitável. Isto é, “se estão vendendo ali e dessa forma é porque agora pode!”. O varejo educa nosso mercado consumidor sobre os novos limites, não apenas atendendo as demandas, mas forçando – muitas vezes – às renovações.
Por isso tudo, é importante que o visual merchandising esteja adequado às famílias que começam a comprar brinquedos (e até roupas) de uma forma diferente: não mais por gênero e sim por categoria. E já (re)pensar o seu espaço comercial em função de uma demanda latente é algo inegável.
#Dica1 A departamentalização da loja não deve ser por menino x menina, mas sim por tipos de brinquedos. Logo, bonecos de super-herói podem estar lado a lado com as bonecas fashion doll (tipo Barbie). Veja que os meninos poderão, de forma mais natural, conhecer e se interessar pelos bonecos fashion doll (tipo Ken), assim como as meninas poderão se aproximar com maior naturalidade dos bonecos coloridos dos filmes famosos. O agrupamento por categoria de produtos, como aventura, fantasia, mágica, esportes, tecnologia ou ciências, aperfeiçoa o espaço de loja e ainda apresenta maior variedade de itens a um mesmo consumidor.
#Dica2 Tradicionalmente os ambientes são organizados em duas cores: rosa e azul. A fim de tornar esses espaços neutros, novas cores devem se destacar na cartela do projeto de visual merchandising, especialmente o verde e o amarelo. Mas a identidade visual pode se desdobrar também a partir das cores da marca (analisar o logotipo) ou de um posicionamento específico (preto indica Premium; verde natureza; azul tecnologia; vermelho força…).
#Dica3 As imagens empregadas na comunicação visual servem para atrair públicos específicos ao sinalizar setores, por isso, para essa nova proposta de visual merchandising faz-se ainda mais importante a inserção de meninos e meninas num mesmo contexto de brincadeira. Quero dizer que para todas as imagens trabalhadas no projeto que contenham pessoas (crianças), essas devem estar compartilhando os brinquedos – e não de forma isolada e/ou estereotipada.
#Dica4 Nem todas as marcas ainda estão adequando suas embalagens para essa nova realidade. Por isso, a fim meramente de evitar a desorganização no espaço de vendas, pode-se nas prateleiras e gôndolas dentro dos setores organizar os itens por cores (rosa e azul), mas sem evidenciar gêneros na comunicação.
Já existem alguns cases a serem estudados no mercado. Um deles é a marca Top-Toy, que tem mais de 300 lojas nos países nórdicos e na Alemanha, a qual redefiniu suas estratégias de comunicação para tornar os brinquedos agênero.
No Brasil a Xalingo Brinquedos foi uma das precursoras nessa mudança ao trazer uma menina para a embalagem dos bloquinhos de madeira, jogo tradicionalmente direcionados aos meninos. O próprio site da marca categoriza os produtos por finalidade e/ou faixa etária – nada de gênero!
A marca inglesa John Lewis aderiu à departamentalização por categorias desde 2012 e, foi além, expandiu o conceito para o segmento de moda. Roupas não estão mais nos setores menino e menina, mas organizadas por finalidades: passeio, dormir, aventura, escola etc.
Afinal, se as crianças podem “explorar, aprender e sonhar sem limitações” (afirmação da Casa Branca – EUA), por que o varejo é quem vai condicioná-las a estereótipos seculares que cerceiam a imaginação e reforçam o machismo?