Modos de homem & modas de mulher
Assistam hoje, na TV CULTURA, às 21h30 no “entrelinhas”, programa sobre o livro “Modos de homem & modas de mulher” do sociólogo Gilberto Freyre. Imperdível!!!!
Gilberto Freyre. Modos de homem & modas de mulher. por Veronica Stigger Escritora Gilberto Freyre morreu em 1987. Naquele mesmo ano, foi lançado seu livroModos de homem & modas de mulher. Uma segunda edição só saiu no final de 2009. Neste livro, Freyre sistematiza um dos tópicos com que vinha trabalhando, de maneira mais oblíqua, em obras anteriores: a moda.
A novidade deste livro em relação às suas observações anteriores sobre o tema está em que, em seus últimos anos, Freyre percebe uma mudança na concepção da moda no Brasil. A partir da década de 70, ele verifica que há um significativo «abrasileiramento» não apenas dos modos de vestir, como também de se pentear e de calçar. A moda acompanhava toda uma transformação das formas de pensar e de se comportar. Até então, os modelos de vestuário eram passivamente importados da Europa, principalmente da França. Isso acarretava a adoção de roupas e de penteados completamente inadequados tanto ao nosso clima quanto às formas da mulher brasileira. No final do século XIX, chegava-se ao absurdo de as mulheres desfilarem com luvas e peles no calor do Rio de Janeiro. E não menos absurdo era o fato de os homens preferirem a cartola ao chapéu de palha, mais fresquinho e mais de acordo com as altas temperaturas. Gilberto Freyre recorda a tentativa pioneira de Flávio de Carvalho de criar um traje para os homens dos trópicos. O seu famoso New Look, de 1956, se compunha de saiote, blusa de manga bufante, sandália e meia arrastão. A ideia era substituir o terno e a gravata – peças de roupa que, para Flávio de Carvalho, seriam incompatíveis com o clima dos trópicos. A moda não pegou, mas, alguns anos depois, os homens, de um modo geral, se viram livres da obrigação de vestir terno e gravata no dia-a-dia. Como observa Freyre, a partir da década de 70 começa a valorização de modas que se ajustam mais às peles bronzeadas nas praias de nossa imensa costa. Aliás, passa-se a ter o que Freyre identifica como «um orgulho da morenidade»: todos querem ter a pele dourada. É a glorificação da beleza morena de Sônia Braga – mas sem deixar de se festejar a beleza loira de Vera Fischer. É como se a moda finalmente começasse a prestar atenção ao caráter miscigenado – «metarracial», como diz Freyre – da população brasileira e a se preocupar em explorar a nossa própria cultura. Assim, nos tecidos, as cores escuras e monocromáticas européias deram lugar às estampas coloridas. E passou-se a adotar materiais próprios do Brasil na confecção de roupas, como o algodão ou a cambraia. Eventos como o São Paulo Fashion Week mostram que essa tendência não arrefeceu. Pelo contrário: há uma busca, por parte de estilistas brasileiros, de criar modelos próprios, não derivados dos europeus. Não por acaso, o tema de uma das últimas edições do evento era «brasileirismos». |
Veronica Stigger
Nascida na cidade de Porto Alegre em 1973. Formou-se em jornalismo, mas deixou as redações para dedicar-se à pesquisa universitária. É doutora em teoria e crítica da arte pela USP, com estudo sobre as relações entre arte, mito e rito na modernidade. Desde 2001, vive em São Paulo. “O trágico e outras comédias”, seu livro de estréia, foi publicado primeiramente em Portugal, em 2003, pela editora Angelus Novus. Em abril de 2004, foi lançado em versão brasileira pela 7Letras. |