Compreenda o Zeitgeist e sua aplicação no vitrinismo

vitrine Gucci pre-fall 2018

Você já teve uma ideia inovadora – ou um insight, como queira – e logo depois percebeu que não estava tão sozinho assim nessa jornada?  Pois é, isso é mais comum do que notamos e afeta, principalmente, profissionais do universo criativo, como designers, artistas e vitrinistas.

Descartando a possibilidade – real – do plágio ou mesmo o resultado de acessos inconscientes aos registros da nossa memória (afinal, nem tudo que vemos é racionalmente percebido, mas pode ficar registrado em nosso subconsciente), há uma teoria filosófica que pode explicar esse fenômeno. É o que chamamos de Zeitgeist.

Zeitgeist é um termo alemão criado pelo filosofo Hegel cuja tradução significa espírito da época, espírito do tempo ou sinal dos tempos. O Zeitgeist significa o conjunto do clima intelectual e cultural do mundo, numa certa época, ou seja, as características genéricas de um determinado período.

Não existe um consenso ou validação cientifica sobre esse “imaginário coletivo”, mas de forma empírica podemos percebe-lo. Dario Caldas, importante estudioso das tendências, afirma que “pensamos que estamos enveredando bravamente por um caminho sem precedentes, e de repente, olhamos em volta e descobrimos que estão no mesmo rumo toda sorte de pessoas de quem nunca sequer ouviríamos falar”.

Para o vitrinista/visual merchandiser captar esses sinais do tempo é uma possibilidade de compreender a personalidade ou o estilo de uma época/de um grupo, recolhendo informações e transformando-as em códigos que devem ser compreensíveis e identitários à maioria dos consumidores.

Todos os setores da sociedade são sinalizadores em potencial deste Zeitgeist, desde o político, o econômico, o comportamental, o cultural até o tecnológico. Como diz Rita Perna, “virtualmente, tudo toca a moda e a moda tudo toca. Porque a moda reflete a vida”. Por isso compreendemos a importância dos profissionais do universo da composição visual estarem antenados a contemporaneidade líquida, que os cerca, buscando aquilo que é mais pungente e característico dentro dos grupos de interesse, como os consumidores de uma marca, por exemplo.

Para Nystrom existem quatro aspectos que devem ser analisados para facilitar a observação do Zeitgeist.

Eventos: do tipo ocorrências significativas, como guerras, morte de líderes e feiras mundiais, movimentos artísticos e os eventos acidentais.

Ideias: estar atento aos ideais atuais, como multiculturalismo; preocupação com o meio ambiente e causas humanitárias; igualdade entre os sexos; e a conexão entre atividades físicas, beleza e juventude.

Atitudes: observar as atitudes com relação a interação do consumidor, no seu desejo de se encaixar em grupos e obter destaque, entre imitação e diferenciação. Assim como observar quais são os motores que impulsionam a moda e quais serão os vetores que irão guiar as tendências.

Tecnologias: com a tecnologia é possível não só perceber o Zeitgeist, mas também as mudanças nos métodos de produção e nas relações sociais.

Dentre estes quatro aspectos de observação, podemos fazer um destaque a tecnologia. Numa era da internet, quase todo input de informação passa pela ferramenta de busca do Google, logo, a mesma tem consigo uma base de dados expressiva que reflete fulltime em suas métricas os interesses dos usuários – numa escala global, vale ressaltar.

Esses dados, aliás, podem ser facilmente verificados na ferramenta Google Trends, a empresa lança anualmente um vídeo que sintetiza as principais pesquisas nos mais diversos campos de interesse. Veja.

Vamos ver um exemplo aplicado do Zeitgeist no vitrinismo. A marca Gucci lançou para sua coleção Pre-Fall 2018 um projeto de vitrina inspirado na revolução francesa de Maio de 1968, que foi uma grande onda de protestos que teve início com manifestações estudantis para pedir reformas no setor educacional. O movimento cresceu tanto que evoluiu para uma greve geral de trabalhadores que balançou o governo do então presidente francês, Charles De Gaulle.

Vitrina Pre-Fall 2018 Gucci
Imagem da campanha Pre-Fall 2018 Gucci ambientada numa sala de aula

Ao destacar esse tema, a Gucci tem o objetivo de reviver o que é mais romântico e rebelde entre os jovens, através de uma sala de aula pichada com a mensagem: “Igualdade, liberdade e sexualidade”. Note que a data do lançamento (12/2018) do Pre-Fall e o tema da campanha vão de encontro ao Zeitgeist local, ou seja, o movimento dos “coletes amarelos” que começou contra o aumento do imposto sobre o combustível e passou a refletir uma insatisfação social francesa mais ampla.

A isso se propõe o estudo do Zeitgeist: identificar temários relevantes que possam ser usados no desenvolvimento de composições visuais, como as vitrinas, de forma a tornar esses projetos não apenas esteticamente bonitos, mas conceitualmente provocativos de reflexões das mais diversas ordens.

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