A evolução da arquitetura comercial no país que mais construiu shoppings nos últimos 30 anos

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Nos últimos 30 anos, o Brasil foi o país que mais construiu shopping centers no mundo. As fachadas dos centros de compras passaram a desempenhar a função de outdoors, com anúncios de lojas, eventos e promoções. Os pórticos monumentais ganharam versão com átrios, jardins e lounges. E também passaram a receber estruturas metálicas de cores claras e muita superfície envidraçada, observa o arquiteto Bernardo Figueiredo, do escritório Arquitetura Espacial, no Rio de Janeiro, que executa projetos nesse segmento.
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A paginação dos pisos, tradicionalmente feita com peças de 40 x 40 centímetros, quase sempre em granilite, rompeu essa marcação rígida com intervenções em desenhos curvos e geométricos e a introdução de pisos com vidros de alta resistência. Outra característica desses novos empreendimentos é que as lojas estão se abrindo para o exterior, com jardins, fachadas e coberturas de vidro.
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Radicado no Brasil desde 1959, o francês Bernard Jean Kaplan, presidente da Shopping Center Promoções, empresa de consultoria e planejamento no setor, lembra que os antigos centros de compras de São Paulo surgiram com a simples idéia de agrupar lojas. Sem oferecer sofisticação, estas tinham pé-direito baixo, e procurava-se economizar com ar-condicionado. Reduzidas, as áreas comuns não podiam exceder 25% da metragem total. Hoje, a história é outra: cresceu a sofisticação, os espaços de convivência já conquistaram 50% da área útil e ganharam transparência e luz natural. As pessoas não procuram os shopping centers apenas para comprar.
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Projetos integrados
O consultor revela que, segundo pesquisas, 68% das pessoas vão a esses locais para passear e apenas 32% para comprar, apesar de os primeiros acabarem comprando como os demais. Além de oferecer cinema, teatro, livraria e loja de discos, entre outros, o shopping contemporâneo deve ter o perfil adequado para promover encontros, seminários e outros eventos culturais e de entretenimento. “Deverão ser criados gigantescos oásis de lazer e cultura, inclusive em áreas oxigenadas e despoluídas”, ele diz.
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Kaplan defende o conceito de projetos integrados, que mesclam lojas, escritórios, unidades residenciais, centro cultural, teatro e até hotel, como o Shopping Leblon, no Rio de Janeiro. Os shopping centers isolados, em sua opinião, tendem a ser cada vez mais raros, enquanto os integrados, ao oferecer maior diversidade, contribuem para reduzir o caos urbano, pois as pessoas não precisam se deslocar de uma região para outra para se divertir e participar de eventos. Além disso, os estacionamentos dos escritórios, conjugados num mesmo complexo, podem ser utilizados à noite por outro público.
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Diferencial
A mudança conceitual também se aplica à arquitetura. Antes concebidos como caixas seladas, os shoppings ganharam coberturas e fachadas de vidro, que rompem a barreira entre áreas internas e externas. Inaugurado no final de 2004, o Espaço Estação, em Curitiba (Finestra 39), projeto do escritório Dória, Lopes, Fiuza Arquitetura, é exemplo de empreendimento que reúne o mix de centro de compras e de eventos. Também recebeu jardins e coberturas transparentes, que somaram cerca de 11 mil metros quadrados de área envidraçada. Na mesma época, a quarta expansão do Shopping Center Flamboyant, em Goiânia (Finestra 40), projeto do arquiteto Bernardo Figueiredo, contemplou o local com generosas cúpulas de vidro.
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Projetos recentes caminham na mesma direção: o Shopping Metrô Itaquera, do escritório Botti Rubin, que deverá ser inaugurado até o final do ano, na zona leste de São Paulo, divulga entre seus atrativos o “mall interno com largura mínima de oito metros e a ampla iluminação natural”. Já na zona oeste, o Bourbon Shopping Pompéia, projeto de Monserrat Arquitetos, com inauguração prevista para o início de 2008, ganhará teatro para 1,5 mil pessoas.
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A arquitetura deve ser a conseqüência, e não a criação virtual que obriga o homem a se adaptar a ela, observa Kaplan. Assim, arquitetos e engenheiros deveriam se associar a grupos de trabalho que agreguem psicólogos, sociólogos, urbanistas, ambientalistas, educadores e economistas, criando uma arquitetura que ele chama de mais inteligente. “É preciso aumentar o poder psicológico da arquitetura”, afirma. E acrescenta que todos os critérios válidos até hoje deverão ser revistos e os modelos reconsiderados.
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Apesar das novas tendências, Kaplan sugere que cada shopping crie o seu diferencial, na combinação de lojas, conforto, sofisticação e arquitetura.
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Publicada originalmente em FINESTRA Edição 51 Dezembro de 2007
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